Alma e política, tema do Rabino Nilton Bonder

O Rabino Nilton Bonder esteve na Livraria da Vila do Shopping Pátio Batel em Curitiba neste 3 de setembro para realizar o lançamento curitibano de seu mais recente livro, Alma & Política, e proferir palestra com o mesmo tema. Contou com o apoio da B’nai B’rith, organização judaica dedicada à disseminação da cultura, e do UniBrasil Centro Universitário.

Foto: Divulgação

Durante sua fala, Bonder abordou a questão de um ponto de vista original e profundo, vinculado à tradição rabínica chassídica (o termo tem raiz em “devoção”), no qual a política não se dissocia da evolução humana.

 

Na sabedoria judaica são definidos dois modos básicos e distintos do pensamento humano: o “machmir” (intransigente) e o “mekil” (conciliador). Daí se originam as dualidades mais diversas, e a partir destas as tendências de opinião, escolha e julgamento: esquerda e direita, liberal e conservador, “pomba” e “falcão”, republicano e democrata e outras.

Segundo Bonder, todos temos um “tipo de Alma”, condição inescapável a partir da qual há três tipos de condutas que se padronizam em nossas ações: o “tsadik” (o justo), o “rasha” (o perverso ou injusto) e o “beinoni” (o intermediário que tenta ser justo). Ser justo ou injusto não implica necessariamente ser bom ou mau, e sim “não ter inclinações” ou “ser subjugado por suas inclinações”. Não ter inclinações, ser justo, é ser capaz de julgar sem ser tendencioso; e ser subjugado por elas, ser injusto, é permitir que as inclinações se tornem decretos. Ainda de acordo com ele, podemos definir o tipo de Alma e praticar um regime que lhe caiba, um aprofundar-se em si mesmo, tentando controlar as parcialidades de pensamento, o radicalismo, rumo à justiça, retidão e isenção.

Nilton Bonder apresentou um conceito simples, porém quase revolucionário: o pensamento per se, dissociado da fala e da ação, é limitado a uma condição estreita e empobrecida; para alarga-lo é necessário desligar-se da pretensão de somente ensimesmar-se, o pensar tem que sair de si próprio, a justiça só ocorre no lugar transpessoal. É preciso escapar da força gravitacional das certezas próprias e isoladas em si.

“Nossas inclinações nos conduzem até onde é possível ludibriar a Realidade. Daqui para a frente, estaremos no coeficiente máximo de flexibilidade para torcê-la sem produzir uma quebra. […] esquerda ou direita, ambos são seres da polis, criaturas antigas que não podem liderar uma cidadania planetária ou, mais ainda, transpessoal. Simbolizam o Regime que conheceu o “outro” e forjou contratos sociais, representando nossa primeira evolução a um estágio coletivo de consciência. O ‘outro’, porém, fez melhor enxergar-se a si próprio. Assim chegamos no limiar de um novo despertar. ”

Foto: Divulgação

Sobre o palestrante

Nilton Bonder é Rabino da Congregação Judaica do Brasil (RJ) e Diretor do Midrash Centro Cultural (RJ). Engenheiro Mecânico, Doutor em Literatura Hebraica e ordenado Rabino pelo Jewish Theological Seminary, é o mais veterano rabino em exercício no Brasil. Escritor com 20 livros publicados no Brasil e traduzidos em 18 idiomas, tendo vendido mais de 2 milhões de cópias. É detentor dos prêmios literários Jabuti e American Book Award. Um de seus livros, Alma Imoral, foi adaptado para o teatro completando 12 anos de apresentações no Brasil, e agora em Buenos Aires e Londres; está em lançamento no Canal Curta um documentário dirigido por Silvio Tendler e baseado no livro.

Destacam-se também os best-sellers “A Cabala do dinheiro”, “A Cabala da comida” e “A Cabala da inveja”.

A apresentação do Rabino foi esclarecedora e trouxe uma reflexão necessária para nosso tempo de confrontos, em que os antagonismos de todo tipo parecem ter assumido o papel do pensamento e dificultam qualquer entendimento entre contrários e até entre semelhantes. Queiramos ou não, estamos conflagrados, cada vez mais o sectarismo toma conta dos debates políticos, religiosos, de gênero, de ideologia; e parece não haver como escapar, vale o dito “mesmo que você não esteja interessado na guerra, saiba que a guerra está interessada em você”.

Texto: Wanda Camargo

 

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