Aula Magna da Escola de Saúde: a morte digna e a morte indigna na visão de Maria Júlia Kovacs.

Morte. Até a palavra parece ser um anátema. No entanto é parte da vida, como o nascimento.

Se para a maioria de nós trata-se de questão difícil e dolorosa, há profissões que a tem quase como parte do dever de ofício, caso dos profissionais de saúde.

Por isso, é oportuno o tema da Aula Magna que marcará o início do segundo semestre de 2019 da Escola de Saúde: “Morte indigna – distanásia versus Morte com dignidade: ortotanásia, cuidados paliativos”.

Quem irá ministrá-la é uma das maiores autoridades do país no assunto, a professora doutora Maria Júlia Kovács. Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da USP. Membro do Laboratório de Estudos sobre a Morte, coordenadora do Projeto Falando de Morte – Filmes Didáticos.

O evento ocorrerá no dia 22 de agosto, às 19 horas, no Auditório Cordeiro Clève do UniBrasil Centro Universitário, e contará com o apoio da Unidade de Pós-Graduação do UniBrasil, do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, e da Fundação Pró-Renal.

Segundo a professora Maria Júlia, “várias mentalidades diante da morte se fazem presentes no início do século XXI: a morte interdita, a reumanizada ou a escancarada”.

Morte interdita, Distanásia, constitui evento solitário, e a expressão do sofrimento deve ser minimizada, sem rituais. A caricatura que melhor a representa é a do ser humano que não pode morrer, com tubos em todos os orifícios do corpo, tendo por companhia ponteiros e ruídos de máquinas, ficando, assim, expropriado de sua morte. O silêncio impera, tornando penosa a atividade dos profissionais de saúde com pacientes gravemente enfermos. Ao se priorizar, no hospital, salvar pessoas a qualquer custo, a ocorrência da morte pode fazer com que o trabalho da equipe de saúde seja visto como frustrante e sem significado, uma das principais razões para o estresse e o colapso, conhecidos como síndrome de Burnout. Não conseguir evitar, adiar a morte ou aliviar o sofrimento pode trazer ao profissional a vivência de seus limites, da sua impotência e finitude. Conversar com seus pacientes, ouvir seus sentimentos e suas emoções fica, nesses casos, relegado a segundo plano diante da batalha contra a morte”.

As definições são dadas por ela: “Morte reumanizada, Ortotanásia, acolhe o sofrimento e dor. O paciente volta a ser o centro da ação, resgatando-se o processo de morrer”.

Morte escancarada invade a vida das pessoas, pela violência, por ser inesperada, dificultando a elaboração do luto. Esse tipo de morte é apresentado na TV, inundando domicílios com uma torrente de imagens de mortes, com diversas representações nos noticiários, novelas, filmes e documentários”.

Se o paciente ainda está na infância, os cuidados não são menores: “O aumento dos casos de Aids e de câncer faz com que jovens fiquem hospitalizados por longos períodos, privados de brincadeiras, dos amigos, das atividades escolares, das relações amorosas, da formação da identidade, e convivam com a perspectiva da morte. Essa dualidade está também presente na concepção de que não se deve falar sobre a doença com pacientes, o que resulta em distúrbios na comunicação gerados pelo processo de adoecimento, situação muito comum em oncologia pelo estigma e pela representação da doença ainda ligada à dor e ao sofrimento. Essa situação é conhecida como conspiração do silêncio. É importante falar sobre a morte com pacientes que se encontram em um estágio avançado da doença, agora em maior número graças a novos tratamentos médicos. As questões são: agravamento da doença, sintomas múltiplos e incapacitantes, transmissão de más notícias, enfrentamento da proximidade da morte e processo do luto antecipatório”.

A preocupação da professora Maria Júlia com a preparação dos profissionais é intensa, segundo ela “o crescente desenvolvimento técnico da Medicina e dos hospitais provocou o deslocamento do lugar da morte, que raramente ocorre em casa. O fim de vida pode ser acompanhado de muito sofrimento, e pacientes e familiares podem se sentir abandonados. Médicos e enfermeiros estão sobrecarregados, tendo que realizar procedimentos com os quais nem sempre concordam. Embora a maioria das mortes ocorra nos hospitais, é também esse o lugar em que se percebe a sua ocultação. A morte, na atualidade, pode ser vista como derrota, fracasso, e leva à percepção dos limites na busca da cura ou do prolongamento da vida, o que causa sofrimento aos profissionais envolvidos”.

A preparação dos estudantes é por isso fundamental: “a morte traz para os profissionais de saúde a possibilidade de entrar em contato com os seus processos de morte e finitude. Estes vivem a angústia de ter que salvar a vida do paciente a todo custo, realizando procedimentos que aumentam o sofrimento e a dor. Devem tomar decisões e, com frequência, sentem-se sozinhos, impotentes, com dificuldade para abordar familiares, que fazem perguntas constantes sobre a evolução do paciente. São frequentes os sentimentos de fracasso. Alguns profissionais não sabem como manejar a dor e outros sintomas incapacitantes, e se afastam de seus pacientes”.

Por isso a importância de ouvir professora Maria Júlia, para cuidar com eficiência é preciso estar excelentemente preparado.

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