Ivo Tonet, recebido em auditório lotado de estudantes da Escola de Educação e Humanidades

Em 24 de outubro, o UniBrasil Centro Universitário, em parceria com a Prefeitura de Pinhais, da MPS Informática e da B’nai B’rith, organização judaica de disseminação da cultura, e por convite da Escola de Educação e Humanidades, sediou mais um evento do projeto Academia UniBrasil, a palestra do professor Ivo Tonet com o tema Educação e Formação Humana.

Tonet é Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista; Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas desde 1980. Autor de dezenas de livros, artigos e seminários, tem vasta produção em diferentes áreas: Ciência, Educação e Política.

Segundo ele, a humanitas romana, o humanismo renascentista e a Bildung alemã também expressam, cada uma com nuances próprias, a mesma ideia de uma ampla e sólida formação do ser humano. Não por acaso, todas elas são profundamente devedoras da cultura grega clássica. No entanto, essas palavras, que expressam momentos altos da trajetória humana, também deixam entrever a unilateralidade com que era vista essa formação humana.

É sempre o cultivo do espírito que é privilegiado. Mesmo quando, como entre os gregos e romanos, se acentua a necessidade de formar o corpo e o espírito, a ênfase está na formação deste último. Quanto ao primeiro, trata-se apenas do seu cultivo através de exercícios físicos de forma a possibilitar o pleno desenvolvimento das faculdades espirituais.

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O que era inteiramente deixado de lado nesse processo de formação do humano era a problemática do trabalho, da transformação da natureza, da manipulação da matéria para a produção da riqueza. Entende-se que assim fosse porque até o advento do capitalismo as tarefas eram de responsabilidade de seres considerados de condição inferior. Daí porque a formação se dirigia apenas àquelas pessoas que, não precisando trabalhar, podiam dedicar-se integralmente às atividades de cunho espiritual. Nem é preciso fazer menção à Idade Média para constatar mais ainda a separação e este desnível entre o trabalho material e as atividades espirituais. Quando o capitalismo entrou em cena, houve uma profunda mudança na concepção, com uma inversão entre trabalho e formação cultural: trabalho passa a ser privilegiado como a atividade principal.

No entanto, a atividade criativa, explicitadora das potencialidades humanas, passa a ser valorizado como simples meio de produzir mercadorias e, especialmente, a mercadoria das mercadorias, que é o dinheiro. Certamente, a formação cultural ainda era bastante valorizada, porém cada vez mais perpassada pela lógica do ter, terminando por ser uma espécie de cereja no bolo da acumulação da riqueza material.

Coube a Marx, em conjunto com outros pensadores, lançar os fundamentos de uma concepção radicalmente nova de formação humana: a correta articulação entre espírito e matéria, entre subjetividade e objetividade, entre a interioridade e a exterioridade no social. É a práxis, uma síntese de espírito e matéria, de subjetividade e objetividade, de interioridade e exterioridade, é que resulta na realidade social.

É preciso considerar que o fato de a produção da riqueza material ser realizada pelos escravos ou pelos servos que é que privilegiou o concedido ao espírito na formação humana. No caso da sociabilidade capitalista, é a centralidade do trabalho abstrato que permite entender a subordinação da formação cultural/espiritual/humana.

A formação integral do ser humano torna-se uma impossibilidade absoluta nessa forma de sociabilidade regida pelo capital. Uma formação realmente integral supõe a humanidade constituída sob a forma de uma autêntica comunidade humana, e esta pressupõe, necessariamente, a supressão do capital. Se definimos a formação humana integral como o acesso, por parte do indivíduo, aos bens, materiais e espirituais, necessários à sua autoconstrução como membro pleno do gênero humano, então formação integral implica emancipação humana.

Vale dizer, uma forma de sociedade na qual todos os indivíduos possam ter garantido esse acesso. Porém, uma tal forma de sociedade requer, necessariamente, um tipo de trabalho que tenha eliminado a exploração e a dominação do homem pelo homem. Somente uma sociabilidade baseada nessa forma de trabalho poderá garantir aquele acesso.

Apenas na medida em que todos trabalhem, segundo as suas possibilidades, e possam apropriar-se daquilo de que necessitam, segundo as suas necessidades, estará posta a matriz para a justa articulação entre espírito e matéria, subjetividade e objetividade. O trabalho, voltado para o atendimento das necessidades humanas e não para a reprodução do capital, se transformará, nos limites que lhe são próprios, numa real explicitação das potencialidades humanas. Por sua vez, esta forma de trabalho possibilitará – a todos – o acesso à riqueza espiritual e o autodesenvolvimento naquelas atividades mais especificamente humanas. Com isso estarão dadas as condições para um desenvolvimento harmonioso – o que não quer dizer isento de conflitos – dos diversos aspectos do ser humano.

Muito aplaudido pelos alunos, o palestrante foi requisitado pelos estudantes para fotos e pequenas entrevistas após sua fala, e professores vieram com estudantes da Universidade Estadual de Ponta grossa e Universidade Positivo para ouvi-lo.

A professora da Universidade Positivo e aluna da pós-graduação em Educação na UEPG, Valéria Brasil, participou da palestra e comentou sobre a contribuição das pesquisas do palestrante para a área da educação. “O professor Ivo é uma pessoa qualificadíssima que traz reflexões muito importantes para a educação”, destacou.

“Eu já conheço o trabalho do professor Ivo, que inclusive, participou da minha banca de doutorado. Tenho muita admiração por ele e por seu trabalho, e não poderia deixar de prestigiá-lo”, também disse uma das participantes da palestra, professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Carina Alves da Silva Darcoleto.

Muitos de seus textos são voltados também ao momento atual, e sua atuação é reconhecida também na área de Serviço Social, onde dezenas de suas publicações são utilizadas no trabalho em sala de aula ou pesquisas realizadas pelos estudantes.

Texto: Wanda Camargo.

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